A ganância é um tema que vem sido usado há bastante tempo pela sétima arte, em função de sua universalidade, pois este sentimento altamente corrosivo afeta a toda a raça humana. O mero contato com a oportunidade de poder resolver todas as dificuldades, alcançando um status de superioridade sobre os demais transforma até mesmo aqueles de juízo mais sensato.
O poder de um bem precioso invariavelmente cega quem o possui, corrompendo sua alma e dissipando a razão do seu comportamento. Todo o resto torna-se mero obstáculo para a sua posse e dividir não é uma opção. Literalmente vale tudo.
A narrativa desta projeção tem início com um misterioso passageiro que repentinamente surge correndo na estação e sobe à bordo de um trem na véspera do Natal. É transferido para o último vagão por não possuir a passagem, onde conhece um vendedor de seguros e uma estudante de medicina.
Sem dizer uma palavra, o enigmático indivíduo ingere um monte de comprimidos com alguns goles de vodka e morre. Quando o condutor do veículo vai noticiar o falecimento deste, é impedido pelas duas pessoas que viajavam com ele, informando a descoberta de uma caixa de madeira contendo um item valiosíssimo.
Tendo em vista que o cadáver anônimo não estava propriamente registrado, o trio, após muito debater, resolve se livrar do corpo e fingir que ele nunca embarcou, repartindo seu valioso pertence. Tem início uma série de eventos que segue o ritmo de uma montanha-russa e que trará consequências fatais para todos a bordo.
A perspectiva de tal conduta vai sendo gradativamente distorcida por cada um dos três envolvidos, especialmente a garota que vai lentamente se revelando como alguém fria e obsessiva.
A montagem do diretor Brian King cria uma atmosfera instável que vai sendo alterada em função dos empecilhos que ocasionalmente surgem. A história é intrigante e o suspense vai intensificando à medida que as complicações vão emergindo.
O confinamento, a neve e a noite são elementos que contribuem para acentuar o distúrbio psicológico dos personagens envolvidos na trama. O período natalino é inserido para reforçar o contraste entre o caráter das ações e a essência deste feriado.
O personagem mais interessante é o condutor Miles que sempre opta pela atitude mais correta, mas termina envolvido no plano para desaparecer com o corpo porque precisa de dinheiro para ajudar a esposa que está no hospital. Seu conflito interno é ricamente trabalhado com o auxílio da excelente performance de Danny Glover.
O elenco traz também as excelentes atuações de Leelee Sobieski e Steve Zahn, entre outros nesta película sobre a distorção de valores gerada pela cobiça que traça uma linha tênue entre a sanidade e a loucura, ofuscando qualquer tipo de discernimento.
A ambição impulsionando a conduta leviana e modificando qualquer noção de humanismo ou civilidade. A caixa mostra o que os olhos querem ver estabelecendo um diálogo subjetivo com todos aqueles que a observam. A humanidade caminhando para o isolamento e auto-destruição.
Uma interessante visão da potencialidade nociva que habita o inconsciente, disparada pelo desejo irrefreável de riqueza e poder. A cegueira do brilho que leva ao abismo.