


Pensando nisso, consegui garimpar 8 títulos “escondidos” no catálogo da Netflix que retratam esse processo de formas bem diferentes.
1. A Senhora da Van (2015)
Baseado em fatos reais, o filme se passa na década de 70 e conta a história do escritor Alan Bennett (Alex Jennings) que, ao se mudar para um pacato bairro londrino, se depara com Mary Shepherd (Maggie Smith), uma idosa que mora dentro de uma van. Apesar de sentir certa repulsa pelo estilo de vida da excêntrica senhora, Alan acaba por apiedar-se de sua situação, permitindo que ela estacione a van em sua garagem e utilize seu banheiro. Mary, uma figura bastante incomum e incrivelmente teimosa, esconde vários segredos e acaba por se tornar inspiração para um dos livros do escritor. É interessante a teoria do protagonista defendendo que o escritor é dividido em duas personas, a que vive e a que escreve, fazendo com que o mesmo apareça duplicado em grande parte do filme.
2. Mary Shelley (2018)
A trama biográfica relata a vida de Mary Shelley (Elle Fanning), britânica de 17 anos, e seu relacionamento romântico com o poeta Percy Bysshe Shelley (Douglas Booth). Filha do filósofo William Godwin e da feminista e escritora Mary Wollstonecraft, a jovem e tempestuosa Mary começou a escrever o que achou que seria uma história curta, em uma noite chuvosa, como parte de uma diversão entre amigos, que originou a obra-prima “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”, publicado, oficialmente, em janeiro de 1818. Apesar de sua vida abastada, Mary enfrentou vários dramas. Inclusive, possivelmente o maior deles serviu como dolorosa inspiração para seu livro. Um grande exemplo de como a dor pode ser sublimada através da escrita.
3. O Mestre dos Gênios (2016)
Baseado em fatos reais, o filme conta a trajetória de Max Perkins (Colin Firth), um famoso editor literário norte americano, do começo do século XX, que aposta em novos talentos e descobre nomes como F. Scott Fitzgerald (Guy Pearce) e Ernest Hemingway (Dominic West), trazendo como ponto principal sua relação conturbada com o gigante literário Thomas Wolfe (Jude Law) e sua vida totalmente atormentada. Wolfe apresenta a Perkins originais enormes, os quais não aceita que sejam retocados. É curioso ver como funciona o trabalho de um editor, que precisa lapidar, cuidadosamente, as obras que recebe, antes de sua publicação. Outro ponto bastante interessante, discutido na trama, é como alguns autores têm grande facilidade de escrever muito, enquanto outros escrevem bem menos e, nem por isso, deixam de ser geniais.
4. Sem Limites (2011)
Esse filme ficcional conta a história de Eddie Morra (Bradley Cooper), um escritor estagnado por um grande bloqueio criativo. Tomado pelo desânimo, ele reencontra seu ex-cunhado, que lhe apresenta uma pílula que promete transformar qualquer um em gênio, instantaneamente. E o que parecia ser a fórmula mágica para um possível best-seller, acaba por prende-lo em uma rede de problemas aparentemente sem solução. O filme considera a genialidade como o conjunto de, entre outras habilidades, disciplina, auto cuidado e ousadia.
5. O Autor (2017)
Álvaro (Javier Gutierrez) é um autor frustrado que tenta escrever seu primeiro best-seller. Quando descobre a traição da sua esposa Amanda (Maria Leon), decide abandoná-la e sair do emprego para, enfim, dedicar-se integralmente à escrita de um grande romance. No entanto, sua vida pouco interessante e sua falta de imaginação mostram-se seus maiores obstáculos. Disposto a conseguir boas ideias para o seu livro, Álvaro começa a criar situações estranhas, manipulando vizinhos e amigos em um enredo obscuro.
6. O Silêncio do Pântano (2019)
Nesse filme espanhol, o escritor e ex-jornalista Q (Pedro Alonso) escreve romances policiais que são um grande sucesso. A ficção parece revelar um lado bastante tenebroso de Q, que decide escrever sobre casos de corrupção em Valência. Até que uma série de eventos sombrios deixam a dúvida se tudo o que acontece é real e manipulado para que sua história seja a mais visceral possível ou faz parte da imaginação do escritor.
7. A Janela Secreta (2004)
Baseado em um livro de Stephen King o filme conta a história de Mort (Johnny Depp), um escritor devastado pela traição da esposa, que vive isolado em um chalé. Tudo caminha relativamente bem até que um estranho visitante acusa-o de plágio. Mort, que já estava com seu emocional bastante abalado, mergulha em uma atmosfera de medo e desespero, chegando a duvidar de seu próprio talento para a escrita.
8. O Cidadão Ilustre (2016)
O filme conta a história de um escritor argentino chamado Daniel Mantovani (Oscar Martínez) que, embora receba o Prêmio Nobel de Literatura, é um crítico severo de premiações e títulos literários. Daniel encontra-se em meio a um grande bloqueio criativo na mesma época em que o prefeito de sua cidade natal, anuncia que irá homenageá-lo com uma medalha de cidadão ilustre. Ao retornar às suas origens, o escritor vive uma série de situações que faz com que vivencie a vaidade que tanto criticava, colocando à prova seu discurso inicial.
E você? Incluiria mais filmes à essa lista? Deixe suas impressões nos comentários.
Grande abraço! 🙂
“Onde aprender a odiar para não morrer de amor?”, indagou, certa feita, Clarice Lispector, demonstrando seu receio às “dores do coração”.
Mas o medo de morrer de amor não é uma preocupação comum a todo literato. O francês Victor Hugo, por exemplo, declarou que “vós, que sofreis porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele”. E, quase o mesmo, validou nosso conterrâneo Mario Quintana, quando afirmou que “tão bom é morrer de amor e continuar vivendo”.
Quando o assunto é mergulhar de cabeça em um grande amor as opiniões são as mais diversas. Mas, é fato que todos carregamos lembranças, sejam de amores consumados, sejam de paixões não correspondidas ou platônicas. Pois, segundo o filósofo Aristóteles, o homem é um animal social, portanto, dado a sentimentos profundos.
No livro Prosa Delirante, de Vicente Portella, Chiado Editora, Eduardo, um sexagenário excêntrico, delira, agoniza e morre em plena praça pública. Não, isso não se trata de um spoiler, o mesmo encontra-se escrito na primeira orelha do livro. Pois, o ponto máximo desta obra não está na morte do protagonista, mas, sim, em sua existência, que foi intensa em todos os sentidos, se entregando às mais tórridas experiências, experimentando amores que iam do terno ao avassalador, tudo em busca da validação de sua existência, de algo que não o deixasse se transformar na multidão de almas mortas, como lhe pareciam os demais.
A obra, escrita em prosa poética, é narrada em primeira pessoa, ao estilo flashback. Através de períodos breves e cadenciados, o autor brinca com a formalidade da língua, expondo uma beleza de texto que seduz lentamente o leitor.
E, enquanto as lembranças desfilam na mente delirante do velho Eduardo, sua história decorre pari passu à história do Brasil, tendo como plano de fundo, as profundas mudanças políticas e sociais que vivenciou, como o mandato de Getúlio Vargas, o regime militar, entre outros acontecimentos históricos.
Sobre suas paixões pregressas, o sexagenário experimenta, nos últimos minutos que lhe restam, cada momento, doce ou amargo. Deixando-nos a sensação de que, independente de sofrer ou não por amor, o mais importante, de fato, é amar.
Sobre o autor:
Vicente Portella é escritor, compositor e poeta. Nasceu na cidade de Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de janeiro, em 1966. Publicou mais três livros: “Luz da sobra”, “Os Anjos do Pé Sujo”, e “O Parto do Pensamento”, em parceria com Elaine Caldas.
Fanpage: www.facebook.com/prosadelirante
Trecho do livro:
“Não sei se Amanda era Amanda. Nem me lembro do nome dela, na verdade. Mas aquele rosto, aquela boca, aquela ruga delicada na fronte escancarando a beleza dos olhos, aquela rua da Tijuca. Com certeza era Amanda. E se não era, era a lembrança dela. A miragem.”
O livro pode ser adquirido através do site da editora Chiado: https://www.chiadobooks.com/livraria/prosa-delirante
“Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão.” – Chico Buarque
O poeta e o filósofo têm muito em comum. A particularidade mais manifesta entre os dois é a curiosa habilidade de contemplar tudo aquilo que passaria despercebido para a maioria das pessoas. Não que apenas os poetas e os filósofos sejam capazes de observar nas entrelinhas. Mas, ambos exercitam essa visão diferenciada de mundo com tanta frequencia, pra não dizer sempre, que respiram e transpiram admiração.
Particularmente, amo a poesia. Com ela, diz-se tanto, com tão pouco. A mente viaja com apenas algumas linhas de uma setença abstrata. Como disse o filósofo iluminista francês Voltaire, “um mérito inegável da poesia: ela diz mais e em menor número de palavras que a prosa”.
Enfim, existem tantos motivos pra afirmar que o mundo precisa de poesia. Talvez o principal deles é que a maioria de nós vive de forma automatizada. Os pequenos detalhes raramente são captados por nossos olhos, porque, geralmente, estão voltados para as telas, para as pequenas e grandes telas, espalhadas por todo lado! E, livros como Nem Tudo que Voa é Pássaro, de Valéria Rezende, editora Katzen, nos convidam a olhar para as infinitas possibilidades. Lançando o apelo sutil, embora evidente, de que a vida real não seja desperdiçada.
A obra é uma coletânea de poemas, da qual tive o imenso prazer de escrever a primeira orelha e a sinopse de capa. Os versos da autora Valéria Rezende são, ora doces, ora intensos, com uma beleza ímpar, que faz a gente fluir pelas páginas com o coração inebriado e a imaginação ativa.
A autora, que é doceira, consegue extrair beleza do que poderia ser corriqueiro, de forma alquímica! Como a querida e saudosa Cora Coralina (que também era doceira), transforma o simples em beleza rara. A beleza essencial que o mundo precisa!
Sobre a autora:
Valéria Rezende nasceu na Zona Norte do Rio de Janeiro, é casada, tem um casal de filhos e trabalha como doceira. Dança, desenho e literatura sempre fizeram parte da sua vida. Nem tudo que voa é Pássaro é o seu primeiro livro.
Trecho do livro:
“Depois da Transformação
Liberta
Abstrai o medo de voar
Longe vai
Saboreia o horizonte
Num galanteio
Que chega a hipnotizar”
O livro pode ser lido através do site da editora Katzen: https://katzeneditora.com.br/nem-tudo-que-voa-e-passaro
Fontes: – Informações contidas no próprio livro.
“O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”. Fernando Sabino
Há quem defenda que somos frutos do nosso meio e que em nada podemos alterar nosso destino. Mas, basta um olhar um pouco mais atento sobre nossas escolhas passadas, para percebemos o quanto elas tiveram o poder de definir nosso presente.
Essa liberdade para decidir tem um preço. Como toda ação provoca uma reação, uma vez feita a escolha, não escapamos de suas consequências, boas ou ruins. É obvio que nem tudo na vida precisa ser tão definitivo. Algumas decisões erradas podem ser consertadas facilmente, outras, no entanto, criam uma cascata de alterações negativas, o chamado “efeito borboleta”, que pode mudar todo o rumo de uma história. Mas, ainda assim, é possível escapar da tragédia anunciada, promovendo pequenas mudanças ou, ainda, simplesmente, nos deixando ser salvos por algumas circunstâncias.
No livro O Poeta e o Guarda-chuva, de Ricardo Tagliaferro, editora Letramento, o personagem principal trilha caminhos tortuosos, que fatalmente o levarão à derrocada, restando-lhe, apenas, ser salvo pela sua arte, a poesia… Se ele assim permitir.
Na história, Vicent, que foi batizado assim por sua mãe, em homenagem ao pintor holandês Vicent Van Gogh, vive de forma bastante instável. Experimentou grandes amores e se perdeu em todos eles, angustiado com as dúvidas que lhe faziam beirar a insanidade.
O poeta, de temperamento forte e alma cética, tenta se manter dentro dos parâmetros morais e racionais comuns, mas sempre flertando com o lado obscuro, através de seus instintos e paixões, por vezes, incontroláveis. E, diante das dicotomias, é aconselhado por uma voz misteriosa que o acompanha por toda vida, tentando guia-lo pelos melhores caminhos.
Por seu talento, Vicent pode se tornar um grande artista, reconhecido e reverenciado na posteridade. No entanto, por suas decisões, seu fado pode ser a escuridão e o esquecimento.
O Poeta e o Guarda-chuva é um romance incrível, com drama desenvolvido de modo poético, mas muito realista. Seus personagens são críveis e sua história tão sincera, que poderia ser a de qualquer um de nós, responsáveis, que somos, por nossa próprias escolhas.
Sobre o autor:
Ricardo Tagliaferro nasceu em Pindamonhangaba (São Paulo), em 1992. Amante de fotografia e da produção editorial, publicou os livros “O poeta e o guarda-chuva”, “100 cartas de uma saudade” e “18 anos de solidão”. Participou de antologias poéticas no Brasil e em Portugal, além de participar como autor e organizador das coletâneas de poesias “Depois das 11” e “Café e Prosa”. Desconcertos é sua estréia no gênero contos.
Trecho do livro: “A voz a moça ecoava por toda a praça e Vicent se viu encurralado enquanto a salva de palmas ficava cada vez mais forte, e as pessoas o encaravam com um ar de respeito e admiração. Nascia ali um poeta. Um poeta que, acuado, correu para longe de tudo aquilo e fingiu que estava acordando de um sonho. A arte enfim o escolheu”.
O livro pode ser adquirido através do site da editora Letramento:
https://grupoeditorialletramento.com/shop/pre-venda-o-poeta-e-o-guarda-chuva/
“Onde aprender a odiar para não morrer de amor?”, indagou, certa feita, Clarice Lispector, demonstrando seu receio às “dores do coração”. Mas o medo de morrer de amor não é uma preocupação comum a todo literato. O francês Victor Hugo, por exemplo, declarou que “vós, que sofreis porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele”. E, quase o mesmo, validou nosso conterrâneo Mario Quintana, quando afirmou que “tão bom é morrer de amor e continuar vivendo”.
Quando o assunto é mergulhar de cabeça em um grande amor as opiniões são as mais diversas. Mas, é fato que todos carregamos lembranças, sejam de amores consumados, sejam de paixões não correspondidas ou platônicas. Pois, segundo o filósofo Aristóteles, o homem é um animal social, portanto, dado a sentimentos profundos.
No livro Prosa Delirante, de Vicente Portella, Chiado Editora, Eduardo, um sexagenário excêntrico, delira, agoniza e morre em plena praça pública. Não, isso não se trata de um spoiler, o mesmo encontra-se escrito na primeira orelha do livro. Pois, o ponto máximo desta obra não está na morte do protagonista, mas, sim, em sua existência, que foi intensa em todos os sentidos, se entregando às mais tórridas experiências, experimentando amores que iam do terno ao avassalador, tudo em busca da validação de sua existência, de algo que não o deixasse se transformar na multidão de almas mortas, como lhe pareciam os demais.
A obra, escrita em prosa poética, é narrada em primeira pessoa, ao estilo flashback. Através de períodos breves e cadenciados, o autor brinca com a formalidade da língua, expondo uma beleza de texto que seduz lentamente o leitor.
“Não sei se Amanda era Amanda. Nem me lembro do nome dela, na verdade. Mas aquele rosto, aquela boca, aquela ruga delicada na fronte escancarando a beleza dos olhos, aquela rua da Tijuca. Com certeza era Amanda. E se não era, era a lembrança dela. A miragem.”
E, enquanto as lembranças desfilam na mente delirante do velho Eduardo, sua história decorre pari passu à história do Brasil, tendo como plano de fundo, as profundas mudanças políticas e sociais que vivenciou, como o mandato de Getúlio Vargas, o regime militar, entre outros acontecimentos históricos.
Sobre suas paixões pregressas, o sexagenário experimenta, nos últimos minutos que lhe restam, cada momento, doce ou amargo. Deixando-nos a sensação de que, independente de sofrer ou não por amor, o mais importante, de fato, é amar.
O livro pode ser adquirido através do site da editora Chiado:
https://www.chiadobooks.com/livraria/prosa-delirante
Córrego, atalho estreito riscado sobre a terra, pela própria água, para a vazão de um fluxo corrente, que se origina de uma nascente. Um fenômeno natural qualificado à analogia mais que perfeita do escape de nossas próprias emoções. Quantas vezes é necessário abrir sulcos, pequenas frestas em nosso emocional, na tentativa de deixar fluir um tanto que seja da abundância de nossos sentimentos represados.
O Córrego, livro de Lázaro Cassar, editora Multifoco, é ao mesmo tempo nascente e vazadouro. Nos incita ao contato de algo do qual já somos abundantes, mas que ainda tentamos compreender sua natureza.
São doze contos ambientados no Rio de Janeiro, com histórias que permeiam o absurdo, devido à realidade exposta de forma ousada, nua e crua. Realidade esta, que se curva, de modo excepcional, ao mais erudito e filosófico, como o conto “Amor de Mãe” – uma releitura de “Fausto” de Goethe – e “A Cidade Abandonada”, repleto de referências culturais.
O Córrego é uma obra visceral e, precisamente por isso, sensível aos detalhes. O autor nos concedeu parte de seu olhar apurado sobre um atributo quase sempre ignorado; o belo existente no cotidiano, principalmente na dor da existência, onde é possível extrair a beleza mais íntima e primitiva. Pois, como disse Freud, “onde abundam as dores brotam os licores”.
Sobre o autor:
Lázaro Cassar nasceu em 24 de junho de 1978, no Rio de Janeiro. Formado em letras pela UFRJ, é professor de Português, Literatura e Redação em redes públicas e privadas. Participou de inúmeros projetos referentes à leitura em comunidades carentes, dentre os quais, a criação de uma biblioteca no Caju (que mais adiante recebeu o seu nome) e o Calçadão da Leitura, em Piabetá. Colaborador em sites de literatura, música e cinema. Apaixonado tanto pela brutalidade de um Borges quanto pelo romantismo de um Roberto. O Córrego é o seu primeiro livro.
Trecho do livro:
“As lágrimas transformavam a planície num imenso borrão, como uma tela derretida. Arrisquei um olhar para trás e não vi mais nada. Apenas a linha de um deserto. Considerei esse fato comum, já que meus olhos haviam se desacostumado com tudo que não fosse o filete d´água, e segui meu rumo. Continuei por horas e horas andando, inclusive já sem esperança de voltar por aquele mesmo caminho – aliás, sem esperanças de voltar. Minhas pernas tremiam de dor, a cabeça queimava como o inferno e tudo ao meu redor parecia volver. Precisava focar no córrego, nada além de seu segredo me importava mais, nada além de conseguir alcançar essa realidade que subjugava meus limites e me fazia crer em coisas que só bem mais adiante eu definiria.”
O livro pode ser adquirido através da fanpage do autor:
https://www.facebook.com/CassarLazaro
Literatura de cordel é um gênero literário, de origem portuguesa, trazido ao Brasil pelos colonizadores, que se popularizou, principalmente, na Região Nordeste. Escrito em rima e impresso em pequenos folhetos, a maioria é ilustrada com estampadas produzidas por carimbos de madeira, as xilogravuras, também utilizadas nas capas. Seu nome tem origem na forma como inicialmente os livretos eram expostos para venda, pendurados em cordas ou cordéis.
Advindo de relatos orais, o cordel costuma contar causos populares, lendas e novelas. Uma peculiaridade deste tipo de gênero é que suas histórias têm como ponto essencial uma questão que deve ser resolvida com a astúcia do personagem. A grande sacada é que muitas obras clássicas podem ser recontadas através dessa linguagem. Como aconteceu com “A Megera Domada”, de William Shakspeare, que foi transformada em cordel como resultado da adaptação do poeta e folclorista baiano Marco Haurélio.
A obra do dramaturgo inglês, que traz o corajoso Petruchio, que se dispõe a casar-se com a fera Catarina, filha primogênita do rico senhor Batista, recebeu uma adaptação genial. Algumas modificações do texto foram necessárias para uma melhor adequação ao estilo nacional. Petruchio, por exemplo, virou Petrúquio e alguns termos bem regionais foram inseridos ao contexto, sem modificar, é claro, o argumento da história original.
“- Vou fazê-lo se agitar
Cão sarnento, condenado!
Vejo ali um tamborete,
Um móvel apropriado,
Para arrebentar-lhe o quengo
E, assim, deixa-lo agitado.”
As ilustrações do cearese Klévisson Viana, por sua vez, simulam primorosamene as xilogravuras, ajudando a compor essa mistura rica e divertida entre o nordeste e a Itália renascentista.
Produzido pela editora “Nova Alexandria”, o livro faz parte da coleção “Clássicos do Cordel”, que consta com diversos outros títulos adaptados da literatura nacional e internacional. A ideia é magnifica, especialmente porque facilita o acesso aos livros clássicos, dando essa roupagem mais lúdica e brasileira.
Fontes:
– http://www.casadaxilogravura.com.br/xilo.html
– https://www.estudopratico.com.br/literatura-de-cordel
– http://marcohaurelio.blogspot.com.br
– http://fotolog.terra.com.br/klevisson_viana